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Blockchain – Integridade ou Autenticidade

 

Eduardo Salles

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Após décadas de esforços no mundo todo, parece que consumidores, empresas, agências reguladoras e governos começam a perceber a importância do uso da tecnologia para o combate às fraudes e suas mais terríveis consequências (tais como os riscos à saúde pública e à economia formal).

 

Contudo, é crescente a preocupação daqueles que conhecem à fundo o “modus operandi” de criminosos e fraudadores no mundo todo ao verem os debates sendo liderados por pessoas que, à despeito do enorme conhecimento de TI, desconhecem os diferentes tipos de fraude, dimensões da segurança, níveis de segurança anti-fraude, etc.

 

Tal preocupação se justifica quando nos deparamos com sucessivas declarações e artigos apresentando tecnologias como o Blockchain para “assegurar a autenticidade de produtos e evitar a comercialização de produtos falsificados”.

 

Sem dúvida, esta ferramenta pode ajudar muito na construção de uma solução efetiva, mas ela não é capaz de cumprir tal promessa sozinha. Ainda pior: as empresas e governos que a adotarem acreditando nesta abordagem estarão premiando os criminosos com, talvez, as maiores oportunidades de sucesso da história.

 

A abordagem especializada em soluções anti-fraude devem compor 4 dimensões de segurança, a saber: autenticidade, rastreabilidade, inviolabilidade e controle.

 

Neste contexto, o Blockchain poderia ser enquadrado como uma espetacular solução de inviolabilidade de uma cadeia de eventos registrada em um sistema de rastreabilidade (veja que já se apresenta a necessidade de uma segunda solução – Blockchain não faz rastreabilidade sozinho).

 

Assim, dentro de um sistema de rastreabilidade (poderíamos analisar, por exemplo, o projeto de rastreabilidade de medicamentos da ANVISA), seria altamente recomendável o uso do Blockchain para assegurar a integridade dos dados de eventos registrados ao longo da cadeia (desde a fabricação do medicamento, passando por distribuidores e revendedores, até chegar ao consumidor final ou leito do hospital).

 

Blockchain é a ferramenta perfeita para isso, pois “amarra” cada evento registrado ao evento anterior, em uma verdadeira cadeia (chain) criptográfica de tal modo que qualquer evento “falso”, torna a cadeia inválida, evidenciando a violação da integridade dos dados.

 

Deste modo, uma solução razoável abrangeria tecnologias de rastreabilidade (registro dos eventos), inviolabilidade (proteção da integridade dos dados – Blockchain) e controle (análise de dados em tempo real para aferição de sua integridade, geração de alertas,

registro de logs, geolocalização, etc).

 

Mas, para que tenhamos uma estrutura realmente eficiente na prevenção e combate às fraudes, ainda falta algo: autenticidade.

 

É importante alertar que, nas tecnologias citadas, não há qualquer elemento que assegure a veracidade dos dados em sua origem.

 

Significa dizer que, se alguém for capaz de invadir um dos sistemas envolvidos (por exemplo, na indústria) e inserir um item falso (o identificador único de medicamento ou outro ID de qualquer sistema), poderá atribuí-lo a um produto falsificado, adulterado, contrabandeado ou roubado e, a seguir, colocá-lo no mercado sem grandes chances de ser descoberto (eventos parecidos com isso já estão surgindo na Europa, disparando os radares das agências governamentais).

 

Observem que o “invasor” não precisa ser um super-hacker. Pode ser um funcionário da empresa, devidamente qualificado e autorizado para isso. Há estudos que afirmam que 80% das fraudes nascem dentro das empresas e organizações, envolvendo pessoas internas.

Para completarmos a estrutura da solução anti-fraude é necessário utilizarmos tecnologias de autenticidade nos produtos, embalagens e documentos alvo da proteção desejada.

 

Há muitas ferramentas para isso. Algumas antigas (hologramas, elementos oticamente variáveis – ovds, tintas especiais, impressões numismáticas, calcografia, marcas d’água, etc) e outras mais modernas, tais como elementos de criptografia gráfica, que permitem a impressão “simples” (no mesmo processo que imprime códigos DatamatrixQRCode e outros), mas altamente sofisticada que pode autenticar os dados presentes.

 

Outra ferramenta poderosa utiliza algoritmos de processamento digital de imagens para comprovar que aquela não é uma cópia do original (assim como a ausência de adulterações deste).

 

Evidentemente, não é possível detalhar todas as possibilidades (tanto fragilidades quanto de soluções) em um único artigo. Precisamos trazer os especialistas (em segurança anti-fraude) para o debate.

 

Isso precisa ser rápido, pois o tema está “na moda” e muitas empresas estão seguindo um rumo bastante perigoso sem ter a menor ideia do risco assumido.